segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Nada

Nada,
eis tudo o que sou
Olhos rasos de água
Tanta mágoa
que nada restou

Sou pobre
Coração derramado
Pobre de rimas
Olhar cansado

Nada,
eis tudo o que sou
Olhos rasos de água
Tanta mágoa
que nada restou

Sou incompleta
Pobre poeta
que apenas sonha ser
Estrela da vida inteira

Mas no sonho fica o ser
e o nada que serei
Pois, antes mesmo de nascer,
Morro sorrateira.

Pratos

Por onde passei
Havia muitas histórias
Dentro de pratos pendurados
Na parede
E vivi cada retrato
Que meus olhos puderam ver
Havia um sapo
Um homem e uma mulher
Uma sacada
Um cavaleiro e sua donzela
Um servo um castelo
Uma cabana uma paisagem
Coqueiros e araras
Um rio um sol se pondo
Pássaros voando riscos no ar
Era tudo tão simples
Mas tão nobre
Quase me pus a chorar
Ai mundo, olhe!
Cada detalhe cada cor
Até mesmo o cinza
E o marrom casca de cocos
Ali numa parede branca
Tão humilde sem desdém
E tão cheia de beleza
Argentina
Verona
Santarén
Fortaleza

Imagem desfalecida

Tua imagem se desfalece
nas lembranças...
Meu corpo se entristece
por tua ausência...
Meu peito se comprime
de saudades...
Eu te perdi
por te amar tanto?
Te perdi
por não trair minh'alma?
Perdi
por me faltar orgulho?
Ainda não entendo
por que eu te perdi...
Não entendo
como podes ver meus olhos
gritando lágrimas
e desprezar...
Como podes renegar alguém
que renegou-se
em troca de teu abraço
enquanto cruzavas os braços!
Ainda não entendo...
Se tivesse real pudor,
como poderias desprezar
tamanho amor?
Só me resta a imagem,
e a imagem se desfalece...

Calar-se

Encontro-me num lugar
onde todos dispersos
nem percebem
o tempo passar
Enquanto estou aqui calada
comigo mesma, fechada
Apenas ouvindo
o que nem eles sabem
que dizem
Muito menos o que os leva
à consciência
As coisas simplesmente
acontecem
É apenas a consequência
da fatalidade
que isola, aqui no fundo,
toda a verdade.

Sou tempo

Sou tempo
que não reflete no espelho
Sou espelho
que não reflete no tempo

Sou parte
integrante de um todo
Sou todo
Integrado de partes

Sou paixão
que nasce de ardente chama
Sou chama
que incita ardente paixão

Sou tudo
e mais um pouco do nada
Sou nada
e mais um pouco do tudo

Só um amor

Não tenho tanto a lhe dizer
Pois não precisa de palavras a entender
Eu amo você, meu bem
E se eu pudesse escolher
Escolheria jamais me separar
Do olhar que me fez voltar a amar
Como nunca imaginei
Mas agora posso imaginar
Nenhum amor maior ou mais bonito
Pois tudo o que sinto é infinito
Estar com você é sonhar a vida inteira
E desejar que não seja tão passageira
Já conto os dias, as horas para o ver
Minha vida já não é a mesma sem você
Eu vou é escrever nas estrelas
Que meu coração tem dono eterno
Para que nunca ninguém se esqueça
Que você, meu bem, de fino terno
É que me levará ao altar
E com suave beijo em tão ternos lábios
Fará minha vida selar
Esse você que é único
Que me faz sorrir de um jeito
Que chega a bater mais forte aqui no peito
E fica úmido
É tão doce o seu amor
Que meu coração pode sentir suas caricias
E se sente protegido por milícias
Sim, você me faz acreditar
Que o amor pode tudo superar
Pode o passado apagar!
Agora é nossa a vida do tempo
Porque somos só um amor
Nascido do alento.

Álcali

Vale à pena viver
Querer mais de um querer
Quando o céu está a chover

E se gotas caírem dentro de mim
Hei de dar um sorriso
Como se visse o sol nascer

Oh, meu paraíso alcalino
Que afaga e me fortalece
Brilhando em meu sofrer

Versos mortos

Guardei meus sonhos numa caixa
Eu queria escondê-los de mim
Dentro do meu tudo
não restara nada
Queria esquecer o vazio que ficou
perfurando ainda mais o meu ser
Queria que os dias
não pudessem ser contados
Não joguei os dados da sorte
que tirou minha alegria
Não pedi a morte
que veio até mim como intrusa
Nem tão pouco amaldiçoei a vida
que fui condenada a viver
Só desejei nunca ter nascido
Nem as lágrimas que derramei
puderam preencher
o que se formou aqui dentro
sem eu querer
E a doce e amarga água
escoou sobre meus pés
Concluí que quem nunca existiu
nunca foi capaz de sofrer
Era só isso que eu queria
Apenas evitar a dor
Nunca suportei
olhar para o mundo e ver
que simplesmente esmorecia
a verdadeira esperança:
o amor.
E tudo o que eu sonhei
desaparecia
junto com as lembranças
de um tempo em que o mundo
foi melhor
(O céu chorou)
Mas habita em mim,
como pássaro a voar,
uma vontade íntima
destes versos ressuscitar.

Não tenho

Sem teus olhos
Não tenho inspiração

Sem tua voz
Não tenho palavras

Seu teu abraço
Não tenho refúgio

Sem teu amor
Não tenho vida

Sem ti
Encontro-me perdida.

Tempo sem volta

Estou parado,
Com as mãos nos bolsos,
Olhando o horizonte...
Relembrando todos os momentos,
Teus sorrisos...
(Até mesmo tuas lágrimas)
Teus olhares...
As loucuras que fazia
Só pra me agradar,
Pra mostrar que me amava
E eu... como fui cego?
Era o meu destino...
Ali... estava um coração
Que precisava, apenas,
Ser correspondido...
No entanto,
Abandonei esse amor,
Reneguei essa paixão...
Sendo que, no fundo,
Meu próprio coração
Chorava em desespero
Por essa vontade louca
De voltar...
De correr para os teus braços
E nunca mais largar.
Mas tive medo...
Medo de sofrer por te amar.
Eu só queria que teu coração
Me pertencesse...
A mim
E a mais ninguém...
Que teu olhar
Fosse só meu...
Mas esqueci...
Esqueci-me das palavras escritas
Em teus olhos,
Do único desejo de teu coração.
Sim... Esqueci de você!
Eu, querendo tanto ser
Amado por ti,
Deixei de provar
O meu amor...
Não suportava saber
Que mesmo tendo teu carinho
Era só a tua metade
Que era minha...
Como fui cego?!
Eu te tinha por completo
E não sabia...
Agora eu sinto
O que é não te ter...
E agora tudo o que me resta
É cobrir o rosto vermelho de lágrimas
(Com as mãos que estavam escondidas)
E cair de joelhos no chão...
Pois tudo o que eu queria
Nesse momento era você...
De volta pra mim!

Allecrim

Ouço o som... meio agoniada...
Sinto saudade de tua presença...
Quero ter-te comigo a todo instante...
Ver-te como a noite é adormecer
num sonho eterno onde a melodia
põe a ninar meu coração...
Esfumaça meus pensamentos!
Preciso dos teus olhos
diante dos meus...
É como se te amasse e ainda
não houvesse descoberto.
Confesso que...
mexe aqui dentro,
e essa agonia permanece
como parte desse sentimento
que insiste nascer...
como se fosse um fruto,
mas será sempre uma flor.

A quarta face

Quantas máscaras usou?
Eu não sei...
Por qual razão a perdeu?
Culpa minha não foi!
Só sei que mereceu.
Moreno de traços perfeitos,
cabelos crespos...
O melhor dançarino no palco,
mas no amor nenhum espetáculo!
Dentro de mim,
mais um
a desfrutar o meu calor...
Mais um ator
a me contar mentiras,
e fazer pouco da mulher que nem tinha!
Deixei de amá-lo num segundo
Quando meu olhar se tornou mudo
ao se deparar com um homem sem valor...
Destituído de pudor!
Perdi meu tempo em sua cama,
sua fama nunca me prendeu!
E o meu amor por você morreu...
Mas, um dia,
lhe devolverei em dinheiro
quatro vezes mais
o amor que não me deu!

Como eu pude

Como eu pude?
Falhar assim contigo
que devia ter sido o meu melhor amigo
o meu maior sorriso...
Como eu pude?
Entregar-me a outros homens te amando
se mesmo me desprezando
era o teu nome que eu dormia chamando...
Como eu pude?
Doar algo que te pertencia
se era por ti que meu céu amanhecia
era por ti todo amor que eu conhecia...
Como eu pude?
conhecer tudo sem ti
se tudo a ti eu devia
se por ti tudo eu sentia...
Como eu pude?
Ainda não perceber que era minha
a mudança esperada
E ter me sentido tão mal-amada
e depois de tudo
ver que realmente fui por culpa minha!
Ai, como eu pude?
Só agora compreendo...
Agora que o tempo parece tarde
Que da janela vejo o céu chovendo
E meu "adeus" se distanciando, cada vez mais,
da cidade
Olho pra trás com saudade
mas as estrelas correm...
E tudo em meu pensamento se move!
Já não posso mais voltar
Com Ele o céu quis me levar
por uma nova estrada
Pra que eu nunca volte a lembrar
"Como eu pude..."
(E assim eu possa continuar)

Singelo pedido

Eu estava ali na frente dele
pedindo para que me amasse
Mas não sei se ele
percebeu que meu olhar pedia
humildemente
seu amor

Eu estava ali na frente dele
pedindo para que me amasse
e ele
no entanto
não me amou

Meus olhos preocupados
não sabiam o que fazer
Eu nunca quisera tanto
esse amor eternizar
Era ele tudo o que eu mais queria
mas tudo o que me dizia
era para que eu deixasse de o amar

Se ele soubesse que
por aquele amor
eu seria capaz de tudo
até mesmo de beijar-lhe os pés
Mas ao vê-lo recusar
o singelo pedido de meus olhos
perdi a vontade de falar
Pois nunca quis tanto
fazer alguém feliz
como quando me encontrei
com aquele olhar

Volte

Não mintas mais,
dizendo que não podes
voltar ao tempo
(Só porque o passado
não existe mais)
Eu sei que nunca é tarde,
e tarde seria
abandonar-me pra sempre!
Só peço que me ame...
apenas isso.
Ame-me de verdade
(é tudo o que eu quero)
Quero ser teu bem querer...
Fazer-te sorrir,
trazer felicidade!
Quero estar ao teu lado
até morrer...
A cada por vir,
a cada anoitecer...
Por favor, eu te peço!
Não deixes
que meu oculto desejo,
esse pobre querer,
se torne apenas saudade
do que um dia sonhei.
Digo-te que, certamente,
falecerá minha alma...
Tornar-me-ei morta
sem tua presença!
Sem o teu beijo,
o teu abraço,
teu desejo,
morrerei...
Eu não consigo enxergar
sem os teus olhos!
Quero-te comigo aqui...
Porque não suportarei
viver sem ti.

Bolha de sabão

Eu a vejo pelos ares
Vindo em minha direção
E admiro o arco-íris
Que roda
Na linda bolha de sabão
Mas ela estoura
Ao pousar na minha mão

Cinco anos

É verdade que foi tudo uma mentira?
Você nunca me amou?
E por 5 anos acreditei numa ilusão...
Não sei mais o que escrever
O amor está fugindo do meu ser
O meu sorriso se apagou
Só enxergo a escuridão
O brilho do seu olhar
(aquele olhar que sempre amei,
o dono do olhar
que muitas vezes delirando chamei)
Vai se distanciando do meu coração
Vai me dizendo adeus
Vai me partindo em vão...
Olhos que me abandonaram
Olhos que nunca me viram
Olhos que nunca me amaram
Que nunca me vêem
e eu me vejo agora
outra vez de você fugindo
Para bem longe
onde não possa mais me alcançar
A dor vai dominando este ser ferido
que a muito está cansado
e eu vou chorando
regando as rosas que secaram
Rosa branca, Rosa vermelha, Rosa seca
Agora sou eu que perco a vontade
de rimar os versos das entrelinhas
de fazer poesia
Perdi a rima
Não sinto mais os pés tocar o chão
Não sinto mais as minhas mãos
pegar a pena que me mantinha viva
quando eu parava e escrevia pra você o que eu sentia...
23 anos...
e ao inverter os números lá está você!
Como posso assim me esconder?
Saudade, por que me atormenta?
Sou-me ausente
na saudade que se dissipa
e me incita...
Tudo em mim se apaga
A memória de você
O ponto final sem fim
Porque a verdade
é que vou lhe amar pra sempre
mesmo sem lhe ter
mesmo sem você
espaço vazio...
Quanto mistério há dentro de mim
que só aumentou desde o dia em que partiu
E o “nunca” entra na cena...
Nunca vou lhe esquecer
Nunca vou deixar de lhe amar
Mas estarei sempre longe de você...
Você que me deixou dizendo “me” amar...
O paradoxo!
Você, que simplesmente “não” me amou
minhas lágrimas não secou
e me partiu em tantas peças
que o quebra-cabeça virou labirinto...
Instinto de amor perdido
Sim, eu me perdi...
E meus atos contradizem
minhas palavras
A verdade é que não sei cuidar de mim
Como posso sozinha prosseguir?
Precisei tanto de você...
(Durante tanto tempo, mas você “nunca” voltou)
E agora, agora me determinei a lhe esquecer
A não o olhar mais, mesmo de longe
A me entregar a outros braços para me aquecer
do frio que você deixou em mim...
Eu, que já nasci no inverno
Inverno era quando você me deixou
O amor que deveras ter sido eterno.

Se eu morrer

Quem irá cultivar as flores,
se eu morrer?
O jardim não irá crescer,
se ninguém cuidar...
As folhas hão de secar...
As rosas hão de murchar...
E a terra vermelha
sua cor perderá...
O jardim não irá crescer,
se ninguém cuidar...
Quem irá cultivar as flores,
se eu morrer?
As rosas precisam de atenção,
que as olhe um nobre coração

Você

Eu estava olhando as estrelas
Quando você ousou aparecer
E fiquei muda ao me dizer “Quero tê-la”
E não ousei lhe responder
Meus olhos estão tão distantes de mim
Que fico assim sem saber o que fazer
E fecho os olhos por vários instantes
E essa vontade se torna constante
Esse intruso sentimento do sem fim
Justo agora que eu me apegava ao silêncio
Que eu fugia do mundo para não ter
Que abraçá-lo outra vez
Nem por mais um segundo
A verdade é que meus frágeis braços
Não são capazes de abraçar
Nem suportar o mundo, nem lhe dar espaço
Eu quero é me entregar aos céus
E voar por um caminho sem volta
Antes que eu perca as minhas asas
E minha mais fiel escolta
Para me proteger
Quem sabe o arco-íres me ensine
O valor das coisas
E a vida que coisas não são nada
Perante pessoas
E que cada uma tem uma linguagem própria de amor
Amor? Ensina-me a amar...
E promete que não vai machucar
Se todo coração lhe entregar?
Não tenho medo dos dias que amanhecem
Mas até quando vai me querer?
“O tempo do tempo” é o infinito
E acreditar faz meu dia ser mais bonito
Mas e você, ainda vai me querer
Depois do anoitecer?
Quem é você?
Que foi capaz de aparecer
Cruzando meu solitário caminho
Quando as mãos invisíveis
Reescreviam minha história no pergaminho
E tudo começou a acontecer
Sem planejado ser
Quem foi que lhe escolheu?
Eu nunca dei atenção a ninguém
Como ousou roubar minha atenção?
Será que também seria capaz
De encontrar a chave perdida do meu coração?
E esse sentimento vem me perturbar
E faz nascer nova ilusão...
Será mesmo que devo acreditar?
Eis que a resposta é “Não sei...”
Tantos já me perderam
Seria ingenuidade pensar
Que é diferente essa vez?
Quem sabe eu devo arriscar...
Por um momento, veio-me o desejo de ter
Até depois do amanhecer
Esse doce olhar que vem me encantar
Esse beijo que os olhos me faz fechar
Esse abraço que sente o meu palpitar
Quando insisto em afastá-lo de mim
Esse homem que eu já conheço
Parece uma eternidade
Você
Que me fará sentir saudade...

Verdade?

O que eu quero sempre é a verdade
Nada mais que a verdade
Alguém pode me dizer? Não a ouço
Não a sinto, Não a vejo
Não a toco, sem ela não me suporto
Não lhe suporto, com nada me importo
Nada somos sem verdade!
E torna-se cruel a realidade...

Não consigo

Eu não podia lhe amar
Eu não sabia que era assim
Não sabia que não poderia ter o seu olhar
Que não poderia pertencer ao seu coração
Não... eu não sabia
Não sabia que não poderia lhe amar
Que eu não podia...
Mas não consigo arrancá-lo de mim
Eu não consigo!?
Vejo-lhe presente em meus sonhos
Reaparecendo nas lembranças
Desde quando o encontrei...
E me iludo nesse amor,
Porque não consigo arrancá-lo de mim.
Eu me esforço, mas não consigo!
Ele está aqui dentro
Tocando meu coração.
Eu gosto tanto dele...
E parece que cada vez o amo mais!
Mas não sabia...
Eu não sabia que seria assim...
Que jamais teria o seu amor,
Que jamais poderia senti-lo
E me envolver em seu calor...
Simplesmente o amo
E não tenho forças para esquecê-lo!
Cansei de tentar...
E por mais que eu cale em meu canto
E chore de tristeza,
Eu simplesmente respeito...
Sinto-me culpada por minha fraqueza, mas
Eu não consigo!
O que existe dentro dele
Completa a metade que falta dentro de mim
E sinto...
Sinto por ter que ficar sozinha
Por sentir tanto sua ausência
Por desfalecer sem o seu amor...
Mas simplesmente não consigo,
Perdoe-me...
Eu não consigo de mim arrancá-lo.
E sei que eu não podia...
Mas é inevitável não amá-lo.

Não vou chorar

Eu não vou chorar
por estar sozinha
Eu não vou chorar
por ter me deixado
Eu não vou chorar
pelo sorriso roubado
Não vou chorar
enquanto meu coração pulsa
Não, não vou chorar
enquanto o papel me abraça,
a caneta me enlaça,
e a obra se forma
através deste olhar
Por que chorar
quando o silêncio
me preenche de palavras?
Não há razão
para as lágrimas...

Odeio

Odeio muitas coisas
Odeio lhe amar
Gostar tanto de você!
Tanto do seu cheiro
De ouvir os seus suspiros,
De respirar você
Odeio amar o seu sorriso,
O seu olhar,
Você por inteiro,
Odeio lhe desejar tanto
Querê-lo!
Querer sua presença sempre...
Não sabe como sofro,
Como dói ficar sozinha,
Como dói chorar...
Ficar ansiosa,
Em desespero...
Perder a vontade de tudo!
Odeio lhe amar tanto!
A ponto de que não viveria sem você...
Como lhe odeio!
Como sou "infeliz" em amá-lo,
Como me sinto sozinha...
Por tanto lhe querer,
Por tanto lhe gostar,
Sim...
Por tanto lhe amar...
Odeio sentir sua falta,
Sentir saudades...
Odeio tudo que me faz lembrá-lo
Sendo que estás ausente
Odeio amar seu desejo,
Amar suas palavras,
Lhe amar por completo!
Querer que fosse meu sempre
Só meu
E não posso mais...
Porque não lhe tenho
E ainda assim lhe amo!
Odeio estar assim
Ficar assim
Ser assim...
E porque não existe mais ninguém
Que eu possa amar tanto!
Odeio simplesmente
Porque sou “louca”
Perdidamente louca
Por você!

O primeiro beijo

Lembra do primeiro beijo,
aquele que eu lhe dei?
O quê? Não lembra?
Ah, não...
Você tremia enquanto eu ria
Era nosso beijo
Nosso tão esperado momento
de compartilhar alegria,
de ser desejo!
Ainda não lembra?
Foi esquisito aquele beijo
Talvez por ser o primeiro
Mas foi a porta de entrada
Para um mundo de amor sem saída
Lembra? Isso você lembra, né?
Porque aquele beijo que eu lhe dei
Selou o nosso amor
E, todo beijo seu, fez-me desejar...
Quem mandou corresponder?!
Agora aguenta!
Nosso vício nunca vai parar...
E, como eu já disse,
Toda vez que fingir que se esqueceu
Eu lhe darei um beijo pra lembrar!

Apenas um momento

Desejo apenas um momento
em que o céu se torne límpido
e eu possa ver teus traços
refletidos no infinito.
Desejo apenas um momento
em que eu sinta o vento me abraçar
envolvida nos teus braços
deixando o tempo, vagarosamente, passar...
Quero fechar os olhos...
Esquecer a dor desse amor...
Fingir que nada aconteceu...
Sonhar com a magia
de um calor enobrecido
que jamais adormeceu...
Desejo apenas um momento
escolher não mais sofrer,
pois o amor é também sorriso,
não apenas dor
ao não ser correspondido...
Desejo apenas um momento
te olhar num instante eterno...
Deixar o tempo se paralisar com tua imagem
e fazer as palavras se calarem...
Deixar apenas o silêncio falar...
todos os versos que sempre quis dizer-te
para preencher teu coração.
Mas enfim “adeus”...
Aquele que não demos
ao despedaçar a flor...
Eu não quero ver tuas lágrimas...
Senti-las cair...
Por um momento
quero esquecer os teus olhos
e não vê-los me chamar...
Quero apenas que siga teu caminho
em paz...
Feliz em teu aceno
como quisestes que assim eu o fizesse...
O vento separou nossos laços
para jamais uní-los!
E apenas um momento desejo
deitar com as lembranças desse amor perdido...
Sonhar como se fosse o paraíso
e lembrar que, um dia,
sim... foi lindo.

Nada me vem à mão

As dores que eu sinto
Desconheço a razão
Penso num motivo
Mas nada me vem à mão
O que tem dentro de mim
Não sei, queria saber
Lembro que sou Jasmim
Preciso de adubo pra crescer
Preciso de chuva
De sol, de vento, de paz
Eu quero mais
Mais de um motivo pra viver
Não me basta ser flor
Se ao mesmo tempo sou dor
Eu quero a razão
De tanto chorar
Mas nada me vem à mão
Minhas pétalas estão caindo
E meu coração vai se partindo...

Rosa seca

Não foi a primeira vez
que olhei para o jardim
e ali estava uma rosa seca
e solitária,
sem poder derramar lágrimas
Eu quis ser cortez
ao perguntar-lhe porquê estava assim
Disse-me fracamente
que alguém rompera a cerca
pisando nas flores
e fechando o irrigador
(oh, como senti a dor)
Ficara sem água para beber
e por isso se pôs a secar
Estava tão triste que tive medo
de nela tocar
Pensei que o calor era preciso
o vento frio lhe fazia tremer
e as pétalas iam caindo
Senti pena, queria protegê-la
Fiz uma nova cerca
plantei novas sementes
e molhei a terra sedenta
Quando o sol veio cobrar seu tempo
o jardim já não era o mesmo
ele florescia
e aquela rosa seca
novamente se abria

Sombra

Ela se desenha negra
Imita meu passo
Confunde a letra
Que chamo de grega
E se me desfaço
Em mim penetra
Comprime meu peito
Quer de todo jeito
Ganhar vida ou forma
Mas se deforma
Ao meu mandar
E só me deixa
Quando faço a luz
Se apagar.

Ateísmo

Quem diz que o homem
inventou Deus para que Este
o criasse?
Quem seria tão tolo?
Ainda que o sentido das coisas
seja por nós inventado
Ainda que sem natureza
não existimos,
porque dela somos parte
Tudo em nós se parte
ao incredulidar Deus
que nos chama como Seus.
Temos que atender
a necessidade de mudar
esse ateísmo
Esse gélido ceticismo
quando é só o amor
do Criador
que traz luz sincera
a esse mundo
que se perdeu em guerra
e que ainda se fez surdo
à Sua clara voz
Pois só tem amor
quem tal Amor
compreende
E é só esse Amor
que de verdade
a mão estende
Sim, “eu sou otimista
Minha própria teoria
já mostra
que sou otimista”
E a teoria que não é minha
comprova-se através
da arqueologia!
Assim, não há psicologia
que possa inventar
que inventamos Deus
quando foi Deus
que nos inventou
e ainda, acima de tudo,
com amor infindo
veio e nos salvou.

O outro lado do amor

Não chore menina
Um dia ele vai voltar
Sinta-se amada
Como num conto de fadas
Teu coração quer sorrir
Alcance os sonhos teus
Vá além de ti
Ame simplesmente
E não espere nada
Porque o amor
Desconhece o tempo
Ele simplesmente
Vive o momento
E faz da brevidade
A verdadeira eternidade.

Nunca mais criança

Escrevi num pergaminho
Minha inconstância
De quanto eu gostava de carinho
De bichinhos de pelúcia
De escrever no meu diário
De abraçar o travesseiro
pra chorar
De leite achocolatado
antes de dormir
De ficar debaixo do chuveiro
quase um dia inteiro
até as mãos enrugar
De cantar desafinadamente
De ganhar presente
e sorrir
Mas vem o tempo
e leva de nós a infância
Só que eu
não tenho vergonha de falar
que ainda gosto de tudo
na mesma intensidade;
Que aquela menina
não ficou na saudade
Ainda por tudo se fascina
Ainda existe em mim
E eu ainda sonho,
ainda tenho a esperança
como a vontade do sem fim!
Mas sei
que nunca mais
voltarei a ser criança...

Mero poema

Creio que não vale à pena viver
Neste mundo egoísta e medíocre
Onde pessoas tiram de você
Os sonhos de felicidade e paz

Creio que nem vale mais à pena sonhar
É grande a incompreensão
Do arredor que me enoja

Creio que não durarei muito
Até que Deus me leve
E agradeço por tudo
Que não irei viver

Creio sim que pelo menos
No meu túmulo dormirei sorrindo
E serei eternamente lembrada
Por todos aqueles
Que me prejudicaram
Quando não os feri

Pois Deus me trará a justiça
Essa que ainda não vi.

Pétala

Pétala que murcha
Das flores que envelhecem

Pétala que cresce
Das flores que nascem

Pétala que torna
A flor mais bela

Pétala que desabrocha
A cada despertar

Pétala que encanta
Os olhos fixos do ar

Pétala única
Em sua diversidade

Pétala minha
E de toda humanidade

O poeta e o poema

Na noite escura... o poeta
O poema... pura ternura

Silêncio!

O poeta escreve em secreto
palavras que se transformam versos

Faz-se pequeno
para torná-lo grande!

Livra-se do tempo,
e condena-se...

Pobre poeta
Belo poema

O poeta... morre
O poema... percorre.

A imagem no espelho

Ela e o espelho brigam por um lugar mais claro
Os olhos rejeitam o revoltado cabelo
Os olhos olham o corpo mal-estruturado e o rejeita
Os olhos inchados se autorrejeitam
A mulher não aceita a imagem do espelho
E o espelho recusa-se a refletir a verdadeira mulher
As lágrimas caem dos olhos
As mãos vão à face e depois tocam o espelho
Que, úmido, é marcado por seu traço
A voz que queria gritar, apenas sussurra trêmula:
- Ele vai me rejeitar...
Mas quando ele a vê não é isso que responde seu olhar
Diz:
- São lindos os teus cabelos, desligue-se deles
E acrescenta num olhar de desejo:
- Você é linda, é mulher
Os olhos dela, longe da imagem do espelho
Convertem as lágrimas num doce sorriso
A face se comove frágil
Ela o ama convulsiva e se aceita.

Esvaziamento

O que foi que fizeste comigo?
Que não consigo
Deixar de te amar.

Pra onde foste amigo?
Que a falta está grande
E me faz chorar.

Por que fizeste isso em mim surgir?
Se foi só calor
O que te ofereci.

Quantas migalhas agora
Impedem-me de sorrir, justo eu
Que me prostrei pra te ouvir.

E dói tanto aqui dentro
Que imploro ao tempo esse amor apagar
Antes que se acabe em mim o ar.

Ser mulher

Ser mulher...
É ter sensibilidade em face à vida
É chorar quando não se pode mais sorrir
É sorrir quando não se deve mais chorar
Ser mulher...
É mais que uma alegria, é magia, é poesia
É a doçura do existir, porque mulher
É sempre uma linda flor que encanta qualquer jardim
Ser mulher...
É se dar valor, é fazer o que for
Para dar ao mundo um pouco de amor
A mulher é o pedaço que completa o todo espaço
Que se acha em falta
É a letra mais bonita colocada em pauta
Para dar à vida sua eterna melodia,
Sua canção, seu terno coração
Ser mulher
É não temer, e, se temer, não desistir
É acreditar que até na morte há um motivo pra sorrir
E quando o mundo não souber mais
Explicar o amor; saberá a sorte que é ter
Uma metade chamada mulher para poupá-lo dos ais.

Rima aspirina

Quando nada me inspira
Falta-me a rima
Que horas são?
Hora de acordar o coração
Que horas tem?
Hora de pegar o trem
E viajar na imaginação
Pois quando nada me inspira
Eu tomo aspirina.

Traição oculta

Porque estes olhos avermelhados?
Se só tu me tens, por que chora?
Meus pensamentos são os teus pensamentos
É o teu toque que deseja o meu corpo
É o teu coração batendo que eu quero sentir
Encostado em meu peito
Não podes me acusar!
Se somente teus olhos agradam este olhar
Por que tens medo?
Por que temes sem razão?
Por que palpita aflito teu coração?
Dance comigo o ritual dos corpos
E sinta-me completamente
Somos nós vivos ou seres mortos?
Sorria comigo o meu riso
Alegre-se a cada entrar neste paraíso
Nada sabe além do que vês
Nada sente além do que sabes
Não ande na contramão
Admire a tua obra-prima
Ela que se torna a cada dia mais linda
Mais cheia do teu calor
Mais imensa do teu amor
(Antes que verdadeiramente acabem-se as rimas)

Só isto e aquilo

Sou mulher que pensa e sente
Sou coisa comovente
Sou frágil taça de cristal
Sou gota de umidade matinal
Sou vento invisível pelo céu
Sou noiva debaixo do véu
Sou cinza espalhada pelo mar
Sou pássaro sedento por voar
Sou espiga de milho sobre a terra
Sou pó que sobra depois da guerra
Sou sonho desfeito e refeito
Sou presidente nunca eleito
Sou referência daquilo que não digo
Sou de leve aquele indesejável quilo
Sou só, sou isto, sou aquilo

Ser mal-amado

Naquele dia me escondi
fugindo de não sei o quê
Mas já não quero lembrar o que ficou
Naquele dia escondi e ainda escondo: eu
todo meu ser;
eu... muda, calada, solitária e triste
Tentando esquecer, sempre esquecer
Correr, distanciar-me do passado
Aproximar-me do futuro
Ver se o que perdi ainda existe
Mas como esperar por aquele amor?
Aquele amor não vem
Eu sei que não, ilusão de "ais"
Aquele amor ficou, paralisado,
em algum lugar que já não sei mais.

Crendice

Nem sei como eu pude acreditar
Nas coisas que me disse
Como pude me encantar
Crendice
E ainda como pôde me falar
Que tudo era pra sempre?
Se você sabia que, um dia,
Esse todo se acabaria...
Oh, como eu chorei
O fim que nunca imaginei
Mas quem mandou
Eu acreditar em tudo
Quando eu devia
Ter acreditado em nada!

Do que sou

O que sou
ninguém pode dizer,
pois quem há de saber
o que há em meu ser?
Mas o que fui
já foi bem dito,
viram acontecer
O que digo é
que não sou mais
E o que serei
não sei, só espero ser
mais do que não fui
Quem sabe,
duas vezes do que sou

Amorável Deus

Eu sei de um Deus
Que eu não preciso ver pra crer
Eu sei de um Deus
que eu posso enxergar de olhos fechados
Eu sei de um Deus
que não preciso que me prove pra saber que vive
Ele simplesmente me O faz sentir
E quando o mundo inteiro
deixa de me estender a mão
é Ele que guia os meus passos na escuridão
E quando o silêncio me vem à alma
é Ele que ouve o clamor do meu coração
E quando as lágrimas caem dos meus olhos
é Ele que as seca
e me convence de que a vida não é em vão
É esse Deus que por amor de mim morreu
É esse Deus que no Getsêmani lágrimas verteu
É esse Deus que transforma tudo o que sou
E mesmo quando Lhe rejeitei me amou
Mesmo quando meu coração se petrificou
Ele veio com suas ternas mãos e o tocou
É por esse Deus que eu exerço a fé
E naquele dia quando das nuvens surgir
e exercer Seu trono de glória
eu estarei em pé
na certeza de que com as mesmas mãos
tocará os meus olhos e me restaurará a visão
Pois toda promessa há de se cumprir
E é com esse amorável Deus
que junto para o Céu hei de ir.

A ESCRITORA

“Escrever é sentir as coisas em palavras, por isso que ler se torna ganhar sentido.”

Capítulo Único

Escrever, escrever, escrever... Que destino cruel! Há tantas coisas mais fáceis na vida, e eu fui nascer logo para o mais difícil. Expressar-se em palavras não é para qualquer um, o escritor é diferente do homem comum. Porque há nele uma sensibilidade que vai além do externo olhar.
Eu poderia dizer que o que me move não é a razão, mas um espírito nobre de poeta que habita cada grama de meu corpo e faz dilatar meu coração.
Já pensei muitas vezes em parar, mas quando vejo... Uma nova encomenda! Nada pior que escrever sob pressão. Eu gosto do que é livre. Quando eu tenho liberdade e não preciso me preocupar com nada a não ser... escrever! Sem data de entrega, sem tema algum a não ser aquele que me trouxe à inspiração. Sempre a não ser.
Quando me descobri escritora era tarde e cedo demais. Tarde para voltar atrás, e cedo para começar.
Comecei minha vida agora, e já não me vejo fazendo outra coisa! Eu amo mais do que tudo a palavra escrita, essa que nos comove, que nos move aqui dentro, que nos impulsiona, que nos atinge, que intriga, que briga com a própria razão quando questiona a verdade; essa... é o todo que amo. Mas não desejo a ninguém o meu destino. A não ser àqueles que também foram destinados. Cabe cada um aceitar, quase sempre é preciso, pois não dá para lutar contra aquilo que é muito mais forte que nós. E nada é mais poderoso que a palavra.
Digo isso, porque metade da minha vida foi estragada por ela. Fui inconsequente ao usá-la, visto que a usei de qualquer modo. Não se pode usar a palavra à toa, sem antes pensar nela. Meu passado é meu martírio, mas também é minha história. Tudo aquilo que vivemos carregamos para sempre.
Têm vezes que... eu não escrevo! Quem disse que sou obrigada a escrever? Eu digo, sim, sou obrigada, pois quando não escrevo, não me sobra nada, não me torno nem me faço, mas, quando crio a palavra em frases que se complementam, eu passo a ser tudo e dou significado ao existir. Não posso ficar sem escrever, senão tudo dentro de mim se diminui ao vazio. Minha alma precisa pensar a falta que sente o meu ser, quando minhas mãos param de se expressar. É a arte!
O que é a arte? É a expressão última de qualquer talento. É a criação de uma obra mais elevada que a vivida. Arte é criar, é transformar, é fazer surgir o novo através do antigo ou do “nada”. Como escreveu Gullar, “a arte é (...) uma transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um outro – mais bonito ou mais intenso ou mais significativo ou mais ordenado – por cima da realidade imediata”. Creio que a arte só é arte quando o sentimento a expressa. E, ainda, ouso a dizer que a verdadeira arte deve ser inteligente, pois se a “arte” não for inteligente, não pode ser considerada arte. Julgo que inteligência é saber utilizar adequadamente todas as ferramentas que construirão a arte. As ferramentas? Nada mais que o sentimento e o talento. Para se construir arte é preciso dedicação plena e a unificação de ambos.
Eu faço arte. Nunca escrevi sem sentimento, nunca escrevi sem ter talento, mesmo que adquirido, pois, quando não temos, podemos adquirir através da prática. Posso não ter talento musical, mas se todos os dias eu treino algumas notas no piano, logo saberei tocar uma partitura. Essa aprendizagem é feita em dois tempos; primeiro se lê as notas, depois as toca. Assim é o mesmo com a escrita, primeiro se lê inúmeras obras que são consideradas primas, depois se tenta escrever algo semelhante. Digo quando não se tem dom nato, pois para os natos, mesmo que precise de prática, é tudo mais fácil, pois flui. Para se escrever é preciso praticar a memória, anotar as idéias, as organizar, estruturá-las no papel.
Escrever é expandir, de forma concreta, um pensamento. Quando eu o falo, depois o perco, então, de que me adianta? Para nada, somente um leve desabafo num momento passageiro, mas quando escrevo, quando escrevo o desabafo me é perpétuo. Não passará e toda vez que eu o ler, sentir-me-ei aliviada, porque minhas palavras ficaram registradas para ninguém esquecer.
Até que ponto vale à pena escrever? O ponto final (de uma obra)? Quando se tem ambiente para isso; não sou como alguém que se contenta com qualquer lugar, a minha verdadeira obra só se forma no silêncio. O ponto final é meu supremo alívio. E eu digo: “- Está consumada.” Será? Muitas vezes escrevo e quando termino de escrever tenho a sensação de que ainda falta algo, o que me faz pensar que toda obra escrita é mutável enquanto seu autor vive.
Não sei quando acabará minha paixão, mas se um dia alguém falar: “A Srª Le parou de escrever”, foi porque morri. O poeta não pára, pode dar um tempo, quem sabe para um novo crescimento interno dele mesmo para refletir isso na própria obra posteriormente se assim desejar, mas não pára, não pára de escrever. Quem nasce com o dom, é condenado a viver para sempre com ele, até o fim, ou seja, vive por escrever, escreve por viver. Ama mais a obra do que as coisas, e ama as pessoas justamente por tanto amar a obra, pois essa as envolve, elas são parte da mesma.
Certa vez alguém me perguntou de onde vinha minha inspiração, e eu respondi: “De tudo, ela vem de tudo.”
É difícil dizer como funciona minha cabeça, creio que da forma mais complexa possível. Eu penso tudo ao mesmo tempo, desejo fazer tudo ao mesmo tempo, mas o tempo é que não me permite. Viu? Paradoxal.
A coisa principal que posso dizer é que, no fundo, não consigo viver sem escrever. É o que sustenta a vida da minha alma, pois quando não escrevo me frustro, quando não escrevo perco o meu sorriso, quando não escrevo, esqueço-me que há um paraíso.
Quando estou apaixonada (coisa da qual já nasci assim!), quando choro, quando me sinto magoada, quando me sinto de alguma forma amada, e tantos outros quando, é que surge a palavra, aquela que é voz no papel.
Quando me dou por conta, já escrevi uma poesia, normalmente, que fala de amor.

Eu não queria te amar
Como te amo
Mas não posso conter
Tudo o que sinto
Meu coração tenta
Despertar dessa ilusão
Mas na aguenta
É forte demais essa paixão
E eu me derramo
No chão
Por desejar tanto
Por almejar
Num período incerto
Literário
Um novo verso
Eu litigo
Não minto
Eu não queria te amar
Como te amo
Mas não posso esconder
Tudo o que sinto.

Desde quando escrever começou a ser um martírio? Definitivamente, eu, que devia saber, não tenho vontade de escrever o que sei. E, como tudo depende da vontade, ou é nada, ou é tudo. Eis que fico com o nada.

Nada,
Eis tudo o que sou.
Olhos rasos de água
Tanta mágoa
Que nada restou.


Creio ter sido a dor o maior fundamento da minha escrita. Quando era a alegria que me dominava, minha escrita não era tão bela. Mas quando a lágrima caia sobre minha face, dela saia as mais belas palavras. Concluo que a dor é parte de mim, é o que gera a obra sincera desse eu-lírico que sou, um eu profundo, pessoal, um eu poeta.
Uma vez ouvi alguém dizer que ler é produzir sentido, eu afirmo que, de igual maneira, escrever é produzir sentido em amplitude, pois todo texto não é dotado de um único sentido, visto que a mensagem do autor é constituída de múltiplas escrituras em diálogo, tal diálogo que sugere a vários tipos como o interno.
Minha escrita surge do nada, ou melhor, do tudo. Eu anoto as idéias, quando lembro, muitas já me esqueci, muitas que eram boas, mas quem sabe voltarão um dia ao meu pensamento para me perturbar; espero apenas estar com um papel e caneta na mão. A minha obra surge dessas anotações, que eu poderia dizer que são rascunhos do pensamento. Quando anoto uma ideia, estou rascunhando um pensamento antes que ele seja lançado ao olvido. Quando não consigo registrar tal momento, quando me perco, sei que nem tudo está perdido. Outras inspirações virão de qualquer lugar.
Se alguns, que me conheceram nos primórdios de minha vida, não concordam com a forma pela qual vivi, eu sinto muito, nunca pretendi desapontá-los. E, sendo a escritora desta história chamada “Minha Vida”, tenho o direito de não pedir permissão para escrever sobre o que eu quiser. Eu me dou permissão para brincar com as palavras, para transformar o mundo que eu piso em mundo de asas. Quem nunca desejou voar? Tem gente que não tenta com medo de cair, mas afirmo que dá para sobreviver à queda. O importante é nunca deixar de tentar.
O meu maior problema é esquecer. Eu me esqueço de tudo, de ideias que acabei de ter em poucos segundos, como agora, eu iria escrever outra coisa e, quando vi, já não sabia mais o que eu havia pensado em escrever. Tudo “sobre” da minha cabeça, o recado que era para eu dar, o arroz que eu devia ter desligado antes de queimar, as próprias palavras que se embaralham na minha mente e, quando vi, as troquei por engano. Eu deveria ter escrito “SOME”, mas escrevi “sobre”!?
Nem tudo é perfeito no meu mundo. Dizem que vivo no mundo da lua, mas a lua não tem luz própria. Dizem que vivo num mar de rosas, mas ele é cheio de espinhos. Eu queria ter escrito minha história em pergaminhos, é tão chique, tão antigo, tão verossímil como a bíblia. Meu mundo é cheio de imperfeições, mas é meu. Não que eu as aceite, mas considero. Minha escrita tem falhas, mas tudo eu revejo sob um novo prisma. Sei que ela tem valor, e não se trata de qualquer um, porque meu cunho instiga o Bem sempre. O valor da minha escrita está nesse desejo, não por querer mudar o mundo para melhor, mas por produzir um novo sentido aos olhos do mundo, um sentido de amor, de paz, de alegria, de dor, de morte, de vida.
Escrever é algo elevado, há em mim, como deve haver em qualquer escritor, o prazer de escrever mesmo que nem sempre seja tão prazeroso assim quando somos vencidos pelo cansaço ou pelas obrigações. O prazo muitas vezes mata a escrita, sim, é o tal “escrever apressado”, um dos tantos vícios, consequentemente, que tenho.
Depois de tanta análise, conclui que escrever é um ato performativo e eu, como autora, sou a chave do enigma textual, pois está em mim todas as respostas do mistério desses textos, afinal, sou eu a dona deles, aquela que os escreve. E se alguém não me compreender, não compreender os meus escritos, direi firmemente como alguém já disse: “Estou acima de meu tempo”.
Ouso a dizer que importa quem fala, porque sou eu que estou falando. Mas a obra deve ser desligada de seu autor, pois, por mais que aja traço do mesmo, não é em si toda a realidade. A obra pode me ser e eu posso sê-la, nós dois num só, nem por isso ela é minha vida real, ao contrário, é minha vida fantasiada, mascarada, lírica, que se faz universal, pois, sendo assim, é também a vida de muitos, ela fala de “um todo” entre “nadas”.
Sei que posso parecer nova aos olhos do mundo para descrever com tanta certeza tais percepções sobre a obra, o ato performativo de escrever, o escritor moderno que nasce junto com seu texto, mas é que sinto que minha morte é iminente. E, antes que não possa mais escrever, quero deixar, aos que virão após mim, verdades que são noções de um mundo espetacular: o mundo das palavras que se formam no papel.
Eu tenho um sonho, sonho que visa a educação. Creio que esse deveria ser o fim último de qualquer escrita, pois sem educação jamais alcançaremos a maior virtude que é a justiça. Certa vez, perguntaram-me “Que vantagem tem de ser justo?”, obviamente eu fiz a mesma pergunta no sentido inverso “Que vantagem tem de não ser?”. Como os grandes filósofos, chego a conclusão de que o homem não educado não serve para nada, por isso, vale mais ser justo que injusto.
A escrita não deveria ser um reflexo da sociedade, pois sendo essa corrompida influenciaria no resultado da escrita. Assim, ela, novamente a escrita, deve ser reflexo único de seu autor, que deve se espelhar no que é melhor para sua sociedade, por isso, repito, todo e qualquer escrita deve ter cunho educativo, sendo da forma mais poética ou fria possível. Educa-se de muitas formas, falando de amor, de vida, de morte, de esperança, de coisas, de qualquer coisa que possa elevar alguém a pensamentos dos mais nobres a respeito dessas mesmas coisas, pensamentos abstratos e práticos ao mesmo tempo. Será possível? Tudo é possível ao escritor.
O escritor se isola quando é preciso, analisa, pensa, reflete, tem percepção e sensibilidade para notar mais profundamente as coisas, e isso faz dele não ser comum, ou melhor, ser incomum.
Ouvi que nenhum autor deve ser contraditório. Ser contraditório é falhar no discurso. Por isso a função de autoria afasta tudo que possa comprometer a unidade de sua fala. Todo texto tem que ter uma tese, um argumento e uma conclusão. Ao menos, é o que eu tenho aprendido em Análise do Discurso. Dou razão, mas descobri que meu discurso é falho, porque eu sou contraditória. Nenhum “tudo o que escrevo ou falo” faz sentido aos outros, somente a mim. Talvez esses sejam os nós da minha escrita, quem irá desatá-los? Deveria ser eu, mas, se eu que os fiz, por que desataria? E tudo chega a uma não-compreensão.
Uma vez um amigo me disse que as mulheres em si eram muito complicadas, mas eu ainda conseguia ser mais. O que quer dizer que estou além de um caráter confuso, além de uma personalidade complexa, além de um único ser com inúmeras coisas distintas dentro de si; ele quis dizer que estou além do “envolvente e difícil” para ser alcançada. Temo que a frase dele seja verdadeira, mas como posso falar isso de mim mesma? Só afirmo que não nasci para ser fácil, tudo me parece simples aos olhos enquanto minha alma, por instantes, pára em êxtase profundo.
Algumas vezes fico pensando se, por mera tolice, antes de morrer, eu terei tempo de deixar uma última frase escrita. Sei que poderia deixar muitas coisas, bonitas provavelmente, sempre com um toque doce, mas... Eu só queria que alguém pudesse dizer após mim que “ela traçou com a pena uma única frase: Viver não é necessário, Necessário é escrever, e dormiu”. Não teria sentido se eu deixasse alguma outra coisa, visto que era o meu fim. O fim de uma vida, da história que minhas mãos escreviam. E se vivi... foi pela obra. Tudo pela obra! Atos que nunca teriam sido aceitos, embora realmente não tiverem sido em si, se não fosse pela obra, minha melhor fuga.
Viver para mim nunca teve tanto sem tido, quer dizer, sentido, pois sem poder escrever sou destituída de vida. Sinto-me frustrada quando não posso escrever, ou, pior, quando não consigo, falta-me um ânimo que surge em hora inapropriada, intrusa. Concluo que ler é fácil, difícil é escrever. No entanto...
Escrever é mais que um forte desejo, é uma realização. Quando escrevo deixo vir à tona meus pensamentos, muitos dos quais se escondem atrás de um olhar triste, de um frágil sorriso, de uma outra expressão. Não! Não quero que pensamentos fiquem escondidos, cada um tem que pôr pra fora o coração. Deixar a emoção, às vezes, tomar conta da razão. Deixar cair uma lágrima quando se tem vontade de chorar, deixar soltar uma gargalhada quando se tem vontade rir, se deixar... Soltar-se. Viver! Complementar-se. Não sei por que há pessoas que insistem em se esconder atrás de uma máscara, de uma falsa face, de uma quase-mentira ou meia-verdade, de palavras que não condizem com o íntimo! É preciso de clareza, de sinceridade, que a verdade saia de si em palavras limpas, é preciso leitura, que cada um crie nobremente sua própria escritura.
Se eu tivesse um último desejo, não pediria uma biografia sobre mim, pediria uma análise do pouco que já escrevi, porque esse se transformaria em muito, e minhas palavras passariam a ter valor a ponto de ser a todos essenciais. O que escrevo ainda não importa tanto, porque ninguém “importante” disse que era bom. Não basta a eu dizer, independente da confiabilidade que há em mim, é preciso do outro, o sujeito que validará minha obra. E é por isso que já pensei em parar, mas... Se eu parar, morrerei. E sou tão jovem para morrer.
A verdade é que não é por mim unicamente que escrevo, mas pelos outros sujeitos que existem e inexistem em minha vida. Escrever a alguém é abraçar esse alguém, ao menos a minha escrita, pois não escrevo para alfinetar, não foi por isso que nasci, escrevo para complementar, abrigar, confortar, esperançar, e com meus dois braços não posso abraçar o mundo, mas com minhas palavras posso alcançar a todos e é por isso que escrevo! (Palavra que se repete)
Falando um pouco mais de mim, ser um tanto insignificante, perdi minha mãe muito cedo, e sinto apenas porque ela não pode mais me abraçar, e o abraço que eu não posso ganhar, eu dou. Ela também não pode mais nem se orgulhar de mim, porque só os vivos é que se orgulham. Minha tristeza é que a melhor mulher do mundo, o outro verdadeiro que poderia validar esse papel, não vive mais para dizer que minha obra é falha, mas minha alma é perfeitamente mágica.
Eu sou um ser que... Digamos assim, não sou o que sou, sou o que penso, o que estimo, o que sinto, o que escrevo, sou complemento. Ninguém espere de mim a melhor escrita, nem da minha pessoa a perfeição, mas espere de mim a mais doce e amarga palavra que falhará muitas vezes até acertar, espere de mim mais do que podes imaginar, porque sou um amor abstrato que é possível de se sentir.
Eu queria ser A ESCRITORA, e, se um dia eu chegar a me tornar, chorarei tão completamente que poderei regar todo sertão. Tal sertão que há nas encruzilhadas do meu pensamento, nas dúvidas que navegam nessa ilusão.
Sobre poesia, eu a amo. Quando vejo estou escrevendo versos corridos, chamados “prosa poética”. Minha prematura obra é impregnada de poesia, poesia que traz significantes como “magia”, “singela vida”, vida que eu cismo a dizer sempre que é só de ida.
É tão irônica essa vida que a primeira coisa que eu escrevi, aos 5 anos de idade, foi poesia: “Meu nome é Andressa, meu sobrenome é Savoldi”. Prestarão atenção na rima interna? Quando cresci só acrescentei o Le, porque todo poeta tem seu charme, seu “monde”, sua razão de ser. Le, não é exatamente Le Monde, quer dizer Lê com circunflexo que indica um verbo necessário, sem circunflexo, que há algo muito mais profundo, há minha mãe, que foi meu Eros, meu monde, minha vida, toda palavra que hoje sai de mim sofrida, porque a morte nunca é esquecida. Minha mãe, uma tal jovem que, aos 33 anos, como Cristo, sorriu para a vida ao dizer adeus, a diferença é que ela permanece aonde a deixamos. A vida foi embora, mas a morte continuou. Triste fim de Lair Eula? Não, não seria triste esse fim, porque o nome dela, dessa tão nobre flor que me gerou, será perpetuado em meu nome. Sim, é como se eu dissesse que através de mim ela existirá para sempre. E, como vivo de um conceito chamado “mimesis”, a obra se faz perpétua quando morre o poeta, frase que deveria vir no fim.
Falando de prosa, é o meu sonho consumista. Eu amo ainda mais a prosa, essa que, na verdade, é mais difícil de ser lida quando é mais longa (constituída de tantas e tantas folhas), é mais complexada, precisa de mais tempo, até que seja lida a última página, para ser compreendida, tal acontecimento que pode demorar dias. Tal motivo que leva as crianças lerem e se interessarem por escritos mais curtos, como a poesia, elas gostam de poesia ainda mais do que nós, porque descobrem a verdadeira magia que essa tem, e como são espertas! Um dos motivos que me leva a querer escrever só para elas, porque não preciso escrever muito para ser entendida, o meu pouco será suficiente e as fará compreender muito bem o que quero dizer. A verdade mais pura é que elas me dão mais atenção. Ter atenção e ser compreendia me realiza em dobro. Visto, ainda, que sou enjoada para escrever, mas são esses enjoos o tal sinal de que algo está sendo germinado dentro de mim; sou, de fato, um verdadeiro paradoxo, porque tenho capacidade para escrever dez páginas por dia e escrevo dez por ano, ano de nove meses. Será, então, que é fruto dos meus 22 anos?
Não, e indago: “Por que não flor dos meus 22 anos?” Tal idade que completei a pouco, pois a pouco eu tinha 21, e é triste, isso sim, constatar que há dois meses tenho 22. Como passa rápido o tempo, como ele me frustra, pois se eu vivesse na segunda fase do romantismo, essa seria a hora de eu sorrir para a vida e dizer adeus.
- Adeus! Sei que nunca serei nada a não ser palavra.